Marketing para veterinários: Uma disciplina que deve constar no currículo das faculdades?
06/08/2011 Deixe um comentário
Já está na hora das escolas atenderem essa demanda do mercado
por Ricardo Oliveira – ricardo@quironcomunicacao.com.br
Temos falado muito sobre marketing e gestão nessa coluna. Recebemos muitos contatos de colegas e estudantes, nos incentivando a continuar escrevendo sobre esse tema. Somos solicitados constantemente para dar cursos e palestras em diversas instituições de ensino por todo o Brasil, em semanas acadêmicas, congressos e eventos. Procuramos atender a todos com o maior prazer. Gosto muito da oportunidade de trocar ideias, e este tipo de oportunidade costuma ser muito gratificante.
Por outro lado, estamos desde 2002 atuando na linha de frente do mercado, atendendo de laboratórios veterinários e empresas de ração, hospitais, clínicas e demais agentes de nosso mercado. Ou seja, temos o privilégio de conviver com as duas “pontas” desta relação: o mercado e a escola (ainda que com esta última de uma forma mais pontual). E o que podemos perceber neste convívio? Que temos a necessidade premente de adotarmos uma disciplina sobre marketing e gestão em nossas escolas de medicina veterinária.
Porque podemos afirmar isso? Simples. No aluno, podemos perceber a ânsia de aprender sobre um assunto que ele, mesmo ainda fora do mercado, vê como sendo de extrema importância. E sobre o qual, ele sabe que não vai receber qualquer informação que seja durante o seu curso (pelo menos em 99% das escolas)… Já nos deparamos com todo tipo de audiência, mas nunca enfrentamos a indiferença. Graças a Deus temos conseguido sempre atrair um público interessante e interessado no assunto e é comum termos longos debates durante e após os eventos. E cada vez mais, podemos perceber nos futuros profissionais a salutar compreensão de que está no empreendedorismo bem feito, a chave para vencer em um mercado saturado.
No mercado, por outro lado, podemos ver que muitas vezes o que determina o sucesso de um profissional que vai se dedicar à clínica de pequenos animais é mais a sua habilidade (geralmente inata, pois como dissemos, curso nenhum prepara o futuro médico veterinário para empreender e depois gerir o seu empreendimento) de ser um bom empresário. Como já falamos em diversas oportunidades nessa coluna, a qualidade do serviço (ou seja, a competência técnica do profissional) há muito já não é mais diferencial. Ela é esperada tacitamente. O que vai fazer o diferencial da clínica é o atendimento, a gestão, a capacidade de encantar e reter os clientes. E isso, escola nenhuma ensina nem o “bê-a-bá”…
E as empresas por sua vez (que, em um quadro impensável há 15 anos, são cada vez mais procuradas pelos recém-formados como opção de carreira, frente à desilusão com as dificuldades do mercado para os clínicos) reclamam que não tem mão de obra qualificada, tendo que realizar o treinamento desde os temas mais básicos.
Para variar, as escolas particulares, mais ágeis e independentes saíram na frente. Em uma rápida busca na internet pudemos encontrar uma boa meia dúzia de escolas que já adotaram algum tipo de disciplina sobre marketing e gestão. Nas públicas, até o momento desconheço iniciativas à respeito. No entanto, vale lembrar que mesmo na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós, a ESALQ da USP, e no curso de agronomia, que verdade seja dita, sempre foi mais orientado para o mercado se comparado com a veterinária, tem formalmente uma disciplina no currículo.
Além da disciplina de gestão e marketing nas faculdades, muitos professores vêm alertando os alunos, logo nos primeiros anos de curso, que o mercado busca um profissional com um perfil mais arrojado e que não tenha dificuldade em trabalhar com marketing e empreendedorismo. Agora, cabe aos formandos buscar essas informações e se dedicar mais a área de humanas em vez de se preocupar apenas com a parte científica, também importantíssima para um profissional diferenciado. Isso porque muitas vezes as empresas se cansam de procurar um médico veterinário qualificado para a área de marketing e gestão, e vão buscar outros profissionais, como administradores de empresas, para ocupar cargos de gerência e chefia, principalmente.
Mas no que efetivamente uma disciplina como essa poderia contribuir? Para os futuros clínicos creio que o principal ganho seria deixar o curso com alguma noção de como montar um plano de negócios, como posicionar o seu futuro empreendimento em um mercado que cada vez mais competitivo e que se torna, a cada dia, mais restrito e exige mais qualificação profissional. Para o que forem atuar no crescente segmento de empresas, um profissional que tiver um pouco mais de formação orientada para o mercado, compreendendo os conceitos básicos de como ele se estrutura, ganharia muito em empregabilidade.
Para as demais áreas de atuação qual a grade ideal? Bom, aqui creio que existe inclusive espaço para adaptações, conforme o perfil do egresso de cada instituição, mas noções básicas de marketing e administração, não podem faltar. Temas como estratégia empresarial são bem-vindos, bem como uma breve introdução ao comportamento do consumidor, marketing pessoal, relacionamento com os clientes, entre outros assuntos. Temos a certeza de que uma maior popularização deste tipo de disciplina poderia contribuir muito para o preparo efetivo dos futuros médicos veterinários, “entregando” para a sociedade um profissional mais apto a desempenhar os papéis que dele se espera, e, ao mesmo tempo, auxiliar no tão almejado processo de valorização da classe.
Bons negócios!
Ricardo Oliveira é médico veterinário formado pela USP, com mestrado pelo ICB-USP. Desde 2001 é proprietário da Quiron Comunicação & Conteúdo, editora e agência de publicidade dedicada ao mercado veterinário e agronegócio. É palestrante na área de Marketing. Atualmente é mestrando na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) pesquisando estratégias de branding para commodities agropecuárias.
http://www.quironcomunicacao.com.br
Agradecemos pelo artigo gentilmente cedido pela Quiron Comunicação & Conteúdo e publicado originalmente na edição de julho de 2011 da Revista cães&gatos.
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