Como tornar seu Responsável Técnico lucrativo (de maneira ética)
19/04/2012 8 Comentários
“Opa! Três palavras que não combinam em nada!”, já pensou o leitor ao ler “Responsável Técnico”, “lucrativo” e “ético” na mesma frase. Não é tão absurdo como parece.
Antes de discutirmos o tabu da lucratividade ética de um RT, vamos esclarecer algo para o leigo: o que, afinal de contas, significa ter um RT no estabelecimento?
No mercado pet, o veterinário Responsável Técnico, de maneira muito simples, é o profissional com competência para prezar pela qualidade de serviços e produtos no estabelecimento assinado por ele. O RT é exigido por lei em quaisquer estabelecimentos que vendam produtos e serviços veterinários, e teoricamente, deve cumprir com no mínimo 6 horas semanais no estabelecimento que assina, conforme Lei 4950-A, Resoluções do CFMV nº 582, 670, 683 e Portaria nº 301, entre outras legislações relacionadas.
Infelizmente, o que se vê na prática é uma função tratada como estorvo por empresários e médicos veterinários, que não enxergam razão de integrar um RT às funções do negócio além da exigência legal e da fiscalização.
Já vi a situação se repetindo no Brasil inteiro: médicos veterinários em caráter de funcionário quase ou totalmente fantasma, que concordam em receber um valor simbólico (ou nulo) pela assinatura de RT. É uma cultura assimilada e até estimulada por colegas veterinários donos de negócio, acadêmicos e mesmo alguns consultores do mercado pet.
Lamentavelmente, já ouvi de colegas “deixa disso, ninguém se preocupa se o RT é atuante ou não”.
Pelo visto “ninguém” (leia-se clínicos e donos de negócio) pensa seriamente o que uma empresa poderia ganhar com a função de Responsável Técnico. Mal sabem os críticos de que ter um RT presente na clínica ou pet shop é ter dinheiro na mão, da forma mais ética que existe – fidelizando o cliente, por interagir com ele ao supervisionar e orientar serviços e produtos diretamente – nada mais do que seu trabalho já previsto em lei.
“Mas um RT competente custa dinheiro! E vou precisar selecionar candidatos, exigir um currículo mais abrangente dos veterinários!” é o que já imagino nas cabeças dos leitores mais críticos. Não posso entender a dificuldade da área de assimilar que o RT é um funcionário como qualquer outro na empresa, nem que o conceito de funcionário pode ser muito flexível em algumas ocasiões, infelizmente.
Já dizia Benjamin Franklin, um centavo poupado é um centavo ganho – e é justamente a valorização profissional que a longo prazo poupará dinheiro para o empresário (além de muitas dores de cabeça).
Eu diria que a função do RT pode ser lucrativa de forma direta ou indireta no estabelecimento; de ambas as formas, o salário “caro” do RT é acima de tudo um investimento.
Calma, vamos por partes:
Diretamente: ao controlar a segurança dos produtos e serviços à venda, o RT evita o desperdício de recurso$, bem como acidentes e transmissão de doenças entre animais, que custarão dinheiro e dor de cabeça ao proprietário do estabelecimento. Exemplos:
– Em pet shops, o RT deve planejar o acondicionamento correto de rações e medicamentos, rotinas de limpeza, bem-estar de animais à venda e orientar a equipe sobre isso.
– Em clínicas, o RT deve planejar a rotina de higiene e limpeza do ambiente, prevenir possíveis rotas de fuga dos animais internados, garantir condições mínimas de bem-estar para pacientes internados e orientar a equipe sobre isso.
– No banho e tosa, o RT deve dar atenção especial à prevenção de acidentes e fugas, parasitas e doenças no banho e tosa, planejar a limpeza correta e regular de equipamentos e ambiente, e orientar a equipe sobre isso. Deve também orientar sobre a manipulação de clientes “especiais”, como animais filhotes, idosos ou com necessidades especiais – braquicefálicos, cardiopatas ou irritadiços.
Tomando por base apenas esses exemplos que dei, o RT já se torna um grande diferencial em relação a outros estabelecimentos, e certamente mais lucrativo.
Indiretamente: um RT presente empresta credibilidade e confiança ao estabelecimento. Seu negócio se torna referência quando clientes enxergam um médico veterinário atento aos processos do local, se relacionando com os diversos membros de sua equipe.
Não é função do RT dar “olhadinhas” e muito menos receitar no balcão; o RT deve explicar a importância de uma consulta no consultório, e educar clientes e funcionários no processo. Contudo, o cliente é inseguro e pode muitas vezes se perder diante da grande variedade de produtos disponíveis, como rações, por exemplo. Um simples esclarecimento feito de boa vontade pelo RT pode levar a uma fidelização muito natural do cliente, que passa a confiar na equipe que atende ele e seu animal.
Pois é essa fidelização do cliente que, em última análise, torna o RT lucrativo de maneira ética. Aqui eu entro em um mantra do marketing, repetido eternamente, mas nunca absorvido pelos empresários: custa de cinco a seis vezes mais trazer um cliente novo do que manter um cliente antigo no seu negócio. E um dono de animal pode ser seu cliente por toda a vida do animal de estimação, se laços de confiança e respeito forem cultivados.
E você sabia que clientes de longo prazo na verdade originam até 95% dos lucros de uma empresa? São muitas as consequências de um cliente fiel – vendas frequentes, custos operacionais reduzidos e recomendações são as mais imediatas.
A esta altura já posso imaginar alguns leitores perguntando, “mas como vou manter meus preços baixos com o custo de um RT?”. Bom, se você trabalha competindo apenas por preços em nosso mercado, vai ter um longo trabalho pela frente, começando por se informar sobre a longevidade desse posicionamento no mercado (que não é muito interessante).
Portanto, assuma seu RT como um investimento na fidelização de seus clientes, um posicionamento de mercado, e não como um fardo legal!
Shand Lenim é médico veterinário, CRMV DF 2715, e diretor do blog Animal Marketing.
parabéns. Precisa desta iniciativas para valorização da RT.
Parabéns pelas informacoes! Estou cheia de ver informacoes erradas confundindo pessoas na internet!
Ola tudo bom, gostaria de fazer algumas perguntas. É necessario para abertura de um salão de banho e tosa pequeno a contratação de um RT, sendo que o proprietário já exerce a função de esteticista a mais de 10 anos, e esse dispoem de poucos recursos para se manter no inicio? Outra pergunta. Um comercio que vende rações e medicamentos de prevenção de parasitas, como pulga, carrapatos, moscas e mosquitos deve ter um RT, sendo que cada produto embalado industrialmente no fabricante já possui seu proprio RT que atesta que o produto esta dentro das normas tecnicas de segurança vigente?
Mais uma pergunta: Gostaria de saber se o médico veterinário recebe formação de estetica animal, tipo cursos de banho e tosa, grooming e afins durante sua formação no curso superior? Sendo assim estaria apto o RT a atestar que determinado esteticista esta apto a exercer a função para qual se preparou com cursos profissionalizantes reconhecidos por entidades renomadas?
Olá Rafael,
A necessidade do RT no B&T varia de acordo com a legislação estadual ou local. Um comércio que vende rações, medicamentos e anti-parasitários precisa sim, ter um RT não apenas por exigência legal, mas também para controlar a qualidade dos produtos a serem vendidos ao público. O RT de qualquer indústria não possui vínculo nenhum com a relação de consumo cliente-varejo e não garante o armazenamento correto, a integridade e a validade do produto uma vez que ele saia da fábrica.
O médico veterinário normalmente não possui formação de estética animal ao longo da faculdade, mas possui conhecimentos técnicos que devem ser aplicados ao banho e tosa e seus profissionais. Não é função do RT atestar a capacidade técnica de um esteticista, mas de fazer valer mínimos padrões de higiene e segurança para os animais e funcionários que frequentam o estabelecimento.
Esperamos ter respondido suas dúvidas!
Animal Marketing
Muito bom artigo!! Gostaria de saber quais os POPs principais para um banho e tosa e um petshop?
Obrigada.
Olá Thelma, os POPs são diretamente relacionados a cada negócio e portanto feitos sob medida, mas alguns principais são de higienização de superfícies, uso de EPIs e uso de equipamentos que ofereçam algum risco ao animal ou usuário.
Irei ser RT de um pet & shop, e antes de pegar esse emprego o proprietário do estabelecimento já está satisfeito comigo. Como disse o amigo Rafael acima, nós não entendemos de estética, mas entendemos se um cão sofrer uma convulsão na hora do banho o que se deve fazer, não entendemos sobre tosar na tesoura ou na máquina, mas sabemos que existem doenças assintomáticas que podem acometer o próximo pet que você for tosar com um instrumento higienizado com um produto errado. O RT pode te defender de uma falsa acusação, como pode prevenir que outros problemas aconteçam em seu estabelecimento.
Isso eu sei bem o que estou falando, existem muitas pessoas que vem até mim acusando os B&T pelo paciente ter pegado pulga, por isso ou aquilo… E um estabelecimento sem um RT é vítima dessas acusações sem poder se defender.